Julgamento é algo muito subjetivo e pessoal. Tem muito a ver com as expectativas de quem faz, seu ponto de vista, suas opiniões e valores. Neste sentido, a opinião dos outros sobre nós diz mais sobre o outro do que sobre nós mesmos.
Muitas pessoas seguem a opinião do outro como referencial, e garantia de acerto, uma forma de reduzir a vulnerabilidade, se sentirem seguros e aceitos. Quando temos dúvidas e incertezas, tendemos a ficar mais vulneráveis à opinião alheia.
A necessidade de aprovação e instinto de sobrevivência
A atenção à opinião dos outros está ligada à necessidade de aprovação e faz parte do nosso instinto de sobrevivência e de evolução – o homem primitivo que conseguiu se integrar e ser aceito pelo grupo, obteve mais recursos e apoio para sobreviver.
Um dos primeiros medos do ser humano é o medo do abandono. Aprendemos desde cedo a obter atenção, afeição e aprovação. Descobrimos o que fazer e quem devemos nos tornar para ter nossas necessidades atendidas. O problema é continuar fazendo essas coisas e achar que isso é fundamental para sermos amados.
Nossas histórias de autovalorização – quando nos julgamos bons o bastante – começam com as famílias de origem.
Na infância recebemos todo tipo de mensagem, verbal e não verbal, que molda nossas convicções sobre nossa importância e valor. E levamos conosco essas mensagens até a vida adulta. A criança aprende que sua importância se deve não ao que ela é, mas ao seu desempenho e comportamento.
Nosso comportamento, pensamento e sentimento estão tanto dentro de nós como são influenciados pelo ambiente. Quando se trata de sentimentos de amor, aceitação e valorização, somos estruturalmente moldados por nossa família de origem – pelo que escutamos, pelo que nos contam, e talvez, mais importante, como vemos nossos pais se relacionarem com o mundo.
Com bastante frequência somos limitados pelas expectativas, pela sensação de que temos um papel específico ou uma função a cumprir.
Algumas pessoas são extremamente preocupadas com o que os outros vão pensar sobre seus atos. Quem vive assim fica à mercê das idéias e pensamentos externos, sem ser capaz de pensar sobre si mesmo, avaliar e tomar uma decisão com segurança.
O equilíbrio
As opiniões e avaliações de outras pessoas podem servir como ótimos feedbacks, mas não devem ser a base de tudo. Não podemos dispensar o outro, mas podemos administrar as doses e não deixar que a opinião do outro comandem nossos pensamentos e nossas ações.
Devemos escutar o outro, mas com discernimento:
- Primeiro temos que avaliar se a opinião do outro soma, se é possível aprender alguma coisa com ela, se vai contribuir com o meu crescimento. Para isso não podemos perder de vista nossos objetivos e necessidades.
Se dermos a outra pessoa o poder e a condição de escolher o que é melhor para nós perdemos toda e qualquer condição de escolha, liberdade e autonomia.
O que vemos é que quanto maior a auto-estima, menor a necessidade de aprovação. Quando conhecemos nossa força, a desaprovação dos outros pesa menos.
O caminho para a liberdade e autonomia
O medo da opinião dos outros muitas vezes tem um efeito paralisante. É comum vermos alguém gostar de alguma atividade, por exemplo, e não realizar por medo da desaprovação dos outros. A pessoa acaba perdendo a autenticidade para conseguir se sentir aceita. O desafio é saber até que ponto se deixar levar pelas avaliações externas, que sempre vão existir.
Nunca conseguimos agradar a todos. Sempre haverá rejeição. Esperar por harmonia e aceitação constantes é frustrante.
Para mudar esse comportamento de dependência com a opinião alheia temos que desconstruir as crenças que utilizamos para construí-lo. A preocupação com que o outro pensa, o medo pelo julgamento precisa ser confrontado e re-significado.
Podemos começar identificando o que leva a pessoa a se importar tanto com o que os outros vão dizer:
- quais as suas preocupações e medos (julgamento, ser ridicularizado, rejeitado, excluído, desaprovado,visto como um fracasso),
- qual a origem da necessidade de validação. Só de começar a pensar e verbalizar esses motivos, algumas crenças já podem ser desconstruídas e ressignificadas.
Num segundo momento lembrar no motivo da escolha, no lugar do que os outros vão pensar e avaliar o que é mais importante?
Pessoas que se preocupam demais com o que os outros tem a dizer não costumam ter uma visão concreta de seus atributos positivos. Podem começar fazendo uma lista de qualidades e elogios já recebidos, visando fortalecer essa autoestima.
Assista abaixo ao vídeo no YouTube com a live “Papo Delas: Como lidar com a opinião do outro? Ela importa mais do que a sua?” que teve a participação da Psicóloga Giselle Maestri.
No dia a dia é importante reconhecer as próprias capacidades e valorizar nossas conquistas - adotar uma atitude mais positiva frente a si mesmo e evitar fazer comparações. O autojulgamento nem sempre é generoso, o que pode ser muito danoso. Padrões de pensamentos negativos sobre a própria capacidade podem vir a impedir de descobrir realizações.
Quem se preocupa com o outro e não vê as próprias necessidades acaba sofrendo duas vezes: por não saber se impor e conversar e por não ser capaz de realizar o que deseja.
Segundo Edith Eger*, autora dos best sellers “A bailarina de Auschwitz” e “A Liberdade é uma Escolha”, “para agradar, muitas vezes abdicamos nosso poder de adulto, deixando que o outro tome as decisões”.
A nossa missão é olhar para nós mesmos, para nossa essência, dando início ao processo que dura a vida inteira: a nossa construção.
Giselle Maestri
Psicóloga
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* Edith Eva “Edie” Eger é uma psicóloga que trabalha nos Estados Unidos. Filha de pais judeus húngaros, ela é uma sobrevivente do Holocausto, escritora e especialista no tratamento de transtorno de estresse pós-traumático.